Pular para o conteúdo principal

E agora, Drummond?

Pintura de Carlos Drummond de Andrade feita
Gerson Vieira

O que há de novo?

Já olhou o melhor de hoje?

A festa acabou

O vinho escorreu

A bateria acabou

E agora, meu caro?

 

Não

Não seria José

Seria Maria

Bem cacheada

Bem lisa

Gorda, fina

Elas, eles

Sendo quem pensam ser

Vomitando um pouco de pixels

Um pouco de energia

Um pouco de nada

E agora, minha cara?

 

O app travou

A tela trincou

Ele não respondeu

Só visualizou

Só pagou presença

A mesma que te deixou raivoso

A mesma que te deixa triste

E agora, meus caros?

E agora, você!

 

A vontade é a mesma

A cabeça ainda é baixa

O real ainda assusta

E o pixel forma o melhor mundo

E agora, minhas caras?

E agora você!

O abraço é mente

O gosto é travoso

A festa acabou

O vinho escorreu

E nada

Nada aconteceu...

Comentários

  1. Uma releitura perfeita para o momento atual! Adorei! E ficarei com a pergunta por muito tempo dentro da minha mente: "e agora?"
    Estamos no século XXI e no ano 2021 sem resposta direta. Cada um construirá a sua, no singular e no plural.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Rainha do Ignoto (1899) de Emília Freitas: Redescobrindo Uma Obra Esquecida da Literatura Brasileira.

  Lançado no ano de 1899 em uma tipografia fortalezense, o romance A Rainha do Ignoto trazia em seu enredo temas e personagens não muito comuns para a tradição literária da época. Para compreendermos o complexo processo de “memoricídio” pelo qual essa obra passou, retrocederemos até a metade do século XIX para conhecer um pouco de sua autora. Emília Freitas era cearense, nascida em 1855, na região de Jaguaruana, mas na época pertencente a Aracati. Desde a infância, Emília entrou em contato com livros e rodas de conversa em sua casa, que a aproximavam do mundo intelectual. Com a morte do pai aos quatorze anos de idade, sua família acabou tendo que se mudar para a capital, Fortaleza, afim de recomeçar uma nova vida diante das dificuldades financeiras e o baque emocional do luto. É na capital cearense que Emília se forma no Curso Normal, voltado a formação de professoras primárias da época, como também se dedicou aos estudos da Língua Inglesa e Francesa. Além de ficcionista, Emília se...

A Angústia da existência: Angústia de Graciliano Ramos

  (Edição de 2019) (Edição comemorativa de 75 anos de Angústia , versão digital.   Imagem de Thalya Amancio) "Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios. Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo. Parece-me que eles cresceram muito, e, aproximando-se de mim, não vão gemer peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa. Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. É uma espécie de prostituição. Um sujeito chega, atenta, encolhendo os ombros ou estirando o beiço, naqueles desconhecidos que se amontoam por destrás do vidro. Outro larga uma opinião à toa. Basbaques escutam, saem. E os autores, resignados, m...

Duas Séries Distópicas Para Instigar Discussão.

Algumas séries podem nos revelar grandes histórias, como também fontes incríveis de análise e discussão. Listarei agora duas séries que se destacaram nos últimos anos não só pela qualidade estética, como também pelas críticas sociais bem construídas e que geraram burburinho na internet e fora dela. São produções consideradas distópicas, histórias embebidas em realidades alternativas e em futuros que não trazem o otimismo das utopias - aquilo que é ideal -, mas sim o que é temido - distopia como o inverso da utopia. Confira as produções que podem te encantar e instigar debates com seus colegas, além de te ajudar nos estudos. Black Mirror (2011-Atual) A série britânica criada pelo satirista Charlie Brooker foi primeiramente veiculada pelo Channel 4 no Reino Unido, mas teve seus direitos de produção e exibição comprados pela plataforma de streaming  Netflix a partir de sua terceira temporada. A produção tem inspiração nas distopias e ficções científicas, sempre pautada em tons satíric...